Depois da longa conversa com Major, pude conferir in loco outro momento único do carnaval Manauara. Como aqui a disputa pelo título é levada muito a sério, desenvolveu-se uma grande rivalidade entre as principais postulantes ao título. A mais antiga rivalidade que persiste atualmente em Manaus é entre Aparecida e Vitória Régia. Por aqui é bem difícil ver um integrante de uma vestindo a camisa de outra ou desfilando nas duas. Opta-se por uma escolha sem concessões. Assim, eventos em que uma escola visita a outra são bem difíceis de acontecer com a frequência que se dá no Rio de Janeiro. Apenas ocasiões especiais e que envolvem outras escolas como o encontro de bandeiras na própria Vitória Régia permitem isso. Temos, portanto, um caso muito específico de um encontro com ares de congraçamento entre a Vitória Régia, do bairro Praça XIV de Janeiro e a Mocidade do Bairro de Aparecida.
No ciclo carnavalesco de 2014, a Mocidade de Aparecida tem recebido outras escolas no seu ensaio-show de domingo. A moderna quadra, com estrutura invejável até para escolas cariocas fica lotada para receber sambistas das duas escolas. O verde que já é predominante cede espaço ao rosa da Vitória Régia, nos camarotes, nas mesas e nas camisas dos torcedores. A bateria da Aparecida, ou Pareca como é chamada carinhosamente a escola, recebe os cuíqueiros do Berço da Samba. Mesmo com a soberania das dezenas de títulos no carnaval de Manaus o presidente da Mocidade Luiz Pacheco se rende aos sambistas da Praça 14, “afinal foi lá onde tudo começou”. Já o presidente Ivan Martins agradece a acolhida da Aparecida “pensando no bem comum e numa união em prol do carnaval”.
E ali na Aparecida tudo continua. Das convenções ousadas de Mestre Paulinho e Mestre Lucas afinadas aos acordes do cavaquinhista Marlon e o carisma do intérprete Wilsinho de Cima sambas históricos do carnaval de Manaus como "Nakokendê, Namambelê, Nazulipanda, Nzambe" do carnaval 1993. Ao som destes sambas evoluem os casais da Mocidade num balé arrepiante. Um belo show de dança e elegância nas apresentações dos casais da Mocidade Independente de Aparecida no palco "Ednelza Sahdo", na quadra da escola. Confiram:
Ao som do samba de 2014 a corte da bateria bota o povo todo pra sambar. Neste momento a emoção fica por conta da madrinha Priscila Carla que sobe pela primeira vez ao palco da bateria, Jorginho Devagar (este registro você confere no post anterior). Logo a seguir uma bonita cerimônia para receber no palco Ednelza Sahdo o casal de mestre-sala e porta-bandeira da Vitória Régia Thaiana e Rogerinho que dançam ao som do samba-exaltação "Acorda minha gente tá na hora". O samba é conhecido em toda Manaus. Segundo o pesquisador Daniel Sales foi composto em 1984 e um dos compositores é Clóvis Rodrigues, mas ele não soube precisar se há mais alguém na parceria(N.E: posteriormente Jander Melo nos passou a informação de que a parceria neste samba foi com Paulo Onça, compositor conhecido nacionalmente pelo samba de 1998 do Salgueiro):
Com esse cartão de apresentação, os visitantes comandados pelo intérprete Prince do Boi tomaram conta da festa e todo mundo sambou ao som de carnavais históricos da vitória Régia como "Nem verde, nem rosa" de 1990; "Hoje quem bota a banca sou eu" de 1995; e "Amazonas, novo milênio de prosperidade" de 2000. Finalizando a sequência o samba para o Carnaval 2014 "Da África ao Amazonas, da escravidão à liberdade". Toda a ficha técnica dos sambas está disponível na descrição dos vídeos no YouTube. Para angariar tais informações contei com o auxílio de Kleber Paiva, Luiz Carlos Magno e Daniel Sales. Confiram os sambas:
Foi uma noite incrível. Saí com a certeza de ter presenciado um momento histórico com duas gigantes do carnaval manauara e quiçá do carnaval brasileiro. A festa vai continuar pois a Aparecida ainda receberá em sua quadra outras grandes de Manaus como Alvorada, Balaku Blaku, Reino Unido e A Grande Família. A sequência tem início com a Sem Compromisso neste domingo (12/01).
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