10.1.14

O Major Manauara da Universidade do Ritmo



Logo que cheguei à Mocidade Independente de Aparecida, bem cedo como sempre, fui beber algo no "butiquim da pareca". Trata-se de um espaço, espécie de lounge, da chique quadra da Aparecida onde é possível ver o movimento do alto da quadra, beber e comer alguma coisa. Enquanto preparava os equipamentos e revisava o roteiro da pesquisa percebi minha companheira de campo e vida, Taynah fotografando algo que estava relativamente distante. Era um decalque da Mocidade Independente de Padre Miguel, sua escola de coração no Rio de Janeiro, em um repique branco. Olhei para o dono do repique que repousou o instrumento sobre o banco do balcão enquanto apreciava o cardápio em pé. Aquele que concedia ao instrumento o luxo do repouso em detrimento dele mesmo era Mestre Major. Já havia topado com ele em outras quadras aqui em Manaus. A primeira vez, quem acompanha os posts deste blog há de lembrar, foi na final da aconchegante GRCES Presidente Vargas. Depois mais uma vez o vi na Andanças de Ciganos. E minha admiração, mesmo sem conhecê-lo foi crescendo. 




Foi o meu amigo da comunidade do carnaval de Manaus no FaceBook, Josevaldo Souza quem indicou: "aquele ali é o mestre Major"; isso quando eu impressionado com a habilidade do ritmista no Ferro de Engomar, perguntei quem era. Diferente do que fiz na Matinha e na Cachoeirinha, dessa vez me dirigi a ele para conhecer um pouco mais daquele por quem já nutria admiração. Falamos sobre várias coisas. Eu achei que seria uma conversa rápida para falar um pouco sobre a visita significativa que a Aparecida receberia naquele domingo, a sua rival mais antiga no carnaval, Vitória Régia. A conversa foi rapidamente para a música, verdadeira paixão de Major. Paixão que o levou ao Rio de Janeiro para realizar o sonho de tocar na bateria "Não existe mais quente" e estudar na Escola de Música Villa-Lobos. E hoje, com formação musical suficiente para dedilhar seu cavaquinho, soltar a voz e dar vazão a sua inspiração em belos sambas, não deixa de honrar sua cidade natal, seu Amazonas, seu Boi Garantido, sua Balaku Blaku, onde tudo começou. 


Mestre Lucas e Mestre Paulinho: os comandantes da Universidade do Ritmo
Chegar onde chegou não foi fácil. Para se ter uma ideia a bateria da Aparecida é conhecida como a Universidade do Ritmo. A excelência de Major é tamanha que não cabe em sua patente. A humildade é tamanha que bate continência para Claudinho Sargento, sambista insulano de igual valor para o carnaval manauara e parceiro do compositor Major. A sua nobreza dignifica não apenas sua posição, como a de seus companheiros "repiqueiros" na Aparecida: Kennedy, Gutinho e Dudu do Repique. O que dizer então dos mestres Paulinho e Lucas, que tão bem me receberam naquela noite? Eles são nada menos que mestres do mestre. E ele faz questão de dividir os louros com os companheiros da Aparecida, pois hoje "os instrumentos tem de estar em sintonia numa bateria" explica Major. Aqui até mesmo os chocalhos são tão fundamentais quanto o repique e para isso "a Aparecida tem uma das melhores alas de rocar (como é chamado o chocalho em Manaus) do Brasil, comandadas pela Ane” decretou Major. Graças ao talento lapidado na Balaku Blaku é hoje ritmista destacado numa das melhores baterias de Manaus (seus ritmistas e torcedores dizem ser a melhor bateria, mas deixo a decisão para os leitores deste blog). Graças ao carnaval de Manaus é hoje ritmista destacado na Mocidade de Padre Miguel, figurando entre bambas como Celsinho do Repique, Dudu e tantos outros. No Rio ele é "Manauara" repiqueiro de Padre Miguel, em Manaus é Major: comandante da bateria da Balaku Blaku "Águia de Ouro" e emérito na Universidade Ritmo. 

Um pouco da performance da Universidade do Ritmo no seu esquenta, no samba do carnaval de 1993 e no samba para o carnaval de 2014:



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