18.3.11

Alô! Alô! Tá na hora de ouvir nosso grito!


(publicado no site SRZD-Carnavalesco em 02/03/2011 www.carnavalesco.com.br)
Em matéria primorosa de Vicente Almeida publicada recentemente aqui no Carnavalesco, o diretor da TV Globo anunciou as “novidades” para a transmissão dos desfiles do Grupo Especial 2011. Basicamente o mesmo modelo será mantido com mudanças nas posições de comentaristas, apresentadores, essas coisas. Longe de querer algum tipo de ingerência sobre aspectos da transmissão da maior emissora do país. Apesar de não concordar não utilizarei este artigo para atacar o monopólio desta sobre a transmissão televisa dos desfiles. Quero apenas no meu papel de humilde e simples espectador chamar atenção para fato que irrita profundamente inúmeros telespectadores como eu que fanáticos gravam e assistem inúmeras vezes as apresentações das escolas: a ausência dos esquentas e gritos de guerra.
Trata-se de momento simbólico da ocupação da escola no palco principal do samba. A expectativa, a tensão dos longos silêncios nos discursos e apresentações iniciais. Os segundos eternos e meteóricos da saraivada de notas antes do primeiro verso ser cantado pelo puxador. Os momentos marcantes ou tensos que antecedem um desfile embalado pela trilha de sambas antigos, sambas de quadra e até vá lá músicas diversas ligadas ao enredo. Os discursos em algumas ocasiões polêmicos que revelam a face da escola que entrará na avenida. Em alguns casos são mensagem de esperança, outros de soberba e até mesmo situações extremas de tristeza por um carnaval frustrante. Omitir momento tão importante é esconder a festa (pois mais que espetáculo, é uma festa, um ritual-competitivo) em uma embalagem pausterizada e hermética.
A crítica se estende a TV Bandeirantes que transmite o Grupo de Acesso A incidindo no mesmo erro. Não é questão de simplesmente criticar a transmissão da emissora que como frisei é a maior do país. Mesmo nas transmissões tem muitas coisas legais como as reportagens de apresentação dos enredos e da preparação das escolas. A emissora tem os melhores profissionais do mercado, os melhores equipamentos, a melhor imagem só precisava dar maior atenção aos espectadores. Sei que os interesses do mercado levam a emissora a focar as transmissões em celebridades. Sei que o espaço publicitário é valorizado e a transmissão é pautada muitas vezes pelo ritmo destes. Penso, no entanto, que tudo isso poderia ser contemplado no período que a escola passa entre o setor 3 e o 7. Uma pena dizer isso, mas sacrificaria assistir esse pedaço do desfile se pudesse ver e sentir o clima da concentração com esquentas e gritos de guerra.
Aproveitando o ensejo, quero apresentar lhes alguns momentos preciosos registrados justamente nesse intervalo de tempo que antecede os desfiles. Relíquias de um espaço liminar que não é desfile, mas onde a escola começa a mostrar-se ao grande público. Todos revestidos de tensão e expectativa, simultaneamente deliciosos de se assistir. Uma lembrança bem adequada aos nos darmos conta que falta menos de uma semana para o reinado de Momo. Então, vamos a eles:
Esquenta Arame de Ricardo 2010
Adoro esse esquenta do Arame de Ricardo. O problema é que até hoje não descobri a origem ou autoria deste samba. Não sei se é samba de quadra, se a escola já desfilou com esse samba, só sei que acho delicioso e passo horas apreciando o romantismo da letra e a beleza da melodia. Talvez os leitores possam me ajudar a “desvendar esse mistério”. Já era fã do Arame de Ricardo por certo ar exótico que a escola exala. Meu carnaval não se completa se não assisto o Arame desfilar.
Esquenta e discurso do Acadêmicos do Dendê em 2010
Nunca vi ninguém melhor para um discurso na concentração do que o presidente de honra do Dendê, Macalé. Neste desfile por uma série de dificuldades que a escola enfrentou foi especialmente emocionado. Logo a seguir o belíssimo samba exaltação do Dendê.
Discurso e esquenta do Canários das Laranjeiras em 2010
Costumo brincar que o samba-exaltação do Canários é o único que cabe em um tweet, ou seja, tem menos de 140 caracteres. A letra simples é ornada pela melodia deliciosa que lembra os sambas de embalo dos tempos de bloco. Tempos que inclusive os blocos não precisavam mais que quatro versos para dar seu recado. O discurso do presidente Pico é representativo do momento em que a escola voltava a desfilar depois de um ano licenciada.
Esquenta e Grito de Guerra da Em Cima da Hora em 2010
Esteja onde você estiver sempre vai se emocionar e ficar arrepiado quando ouvir “Os Sertões”, no entanto, quando é a Em Cima da Hora que executa a obra-prima o samba adquire um ar sagrado. Em 2010 a escola foi campeã do Grupo de Acesso D, percebe-se no grito de guerra que ela passaria devorando asfalto naquele ano. O estilo performático do intérprete Serginho Gamma é um deleite para os cinegrafistas e espectadores. A entrada da bateria, um momento mágico e emblemático para os componentes, fica maravilhosa com o excelente ritmo da escola de Cavalcante.
Esquenta Unidos de Lucas em 2010
Bom, se ouvir “Os Sertões” executado pela Em Cima da Hora é uma experiência única, imagina ouvir “Sublime Pergaminho” executado por Lucas. Este sambaço nos faz nostálgicos da saudosa Unidos de Lucas e seus grandes carnavais. Que a Unidos de Lucas reencontre o caminho dos grandes desfiles e seus componentes e torcedores sejam bem felizes.
Esquenta Unidos de Cosmos em 2010
Pouca gente deve conhecer esse sambão que a Unidos de Cosmos apresentou em 2005 e foi esquenta da escola no último carnaval. Falando sobre malandragem de um modo tão sublime esse samba tem uma melodia viciante. O soar da sirene ao fundo, autorizando o inicio do desfile é algo que mesmo nos desfiles do Grupo A os que acompanham pela televisão não ouvem há um bom tempo.
Grito de Guerra Independente da Praça da Bandeira em 2010
Olha o clima de uma escola campeã. Você nota na tranqüilidade das pessoas no entorno do intérprete, na segurança da entrada da bateria. Neste vídeo o cantor da Independente adota um estilo parecido com o das escolas de samba de São Paulo com contagem regressiva e um “lalaiá” melodiado de acordo com o samba do ano. Conheço pessoas fanáticas por esse estilo, assim como outros que não gostam. O fato a ser ressaltado é a diferença nas transmissões entre Rio e São Paulo. Sabe-se lá o motivo, mas a Globo mostra alguns gritos de guerra das colas paulistanas, diferente do que faz no Rio. Assim muitos dos intérpretes lá já criam um estilo copiado por alguns cariocas.
Esquenta, Grito de Guerra e discurso da Matriz de São João de Meriti
A Matriz tem pouco mais de um ano de vida e seu samba exaltação já é cantado a plenos pulmões por seus componentes. Ouçam o ecoar dele no vídeo! O pitoresco discurso do diretor de carnaval Alemão é outra curiosidade. Mais enérgico impossível.
Esquenta Favo de Acari em 2010
O Presidente da escola, Fogueira, autor do samba exaltação é quem conduz o esquenta. Um fato significativo por si só. O bailar suave do casal e todo o orgulho de defender as cores da escola emolduram e completam o cenário.
Bônus – Discurso do Marquinho no Amarelinho em 2009
Na primeira e única vez até então que a Corações Unidos do amarelinho passou na Sapucaí nos legou essa pérola. Quem assistiu do setor 1 ou setor 3 acompanhou na íntegra esse discurso histórico do diretor Marquinho Harmonia. Depois suas palavras virariam lema do movimento popular de apoio à São Clemente, La Pandilla Clementiana: “é energia e vigor físico”.
Bônus 2 – Esquenta Arrastão de Cascadura em 2009
Um dos mais belos sambas da história do Arrastão de Cascadura e das mais belas obras do carnaval carioca em homenagem a Zezé Mota, enredo do Arrastão em 1989. Aqui na última passagem da escola pela Sapucaí é interpretada por Marquinhos Silva. Normalmente a escola esquenta com esse samba maravilhoso. É provável que quem for assistir ao desfile na Intendente Magalhães ouça ao vivo esse sambaço no esquenta.

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