20.2.11

Ecos do desastre

(publicado no site SRZD-Carnavalesco em 12/02/2011 www.carnavalesco.com.br)

Pensei em começar este texto expressando meus sentimentos frente a trágica imagem do fogo consumindo os barracões da Portela, União da Ilha e Grande Rio. Mudei de ideia diante da incapacidade de passar impressões com a propriedade de quem estava lá como o amigo Anderson Baltar. Não teria a capacidade de traduzir em belas e reconfortantes metáforas o esforço dos sambistas salvando o que era possível nos barracões. Tampouco seria eu o veículo que expressaria com exatidão a dor dos artistas envolvidos na produção das alegorias e fantasias da Grande Rio. Mesmo o conhecendo não conseguiria traduzir o investimento e orgulho do Adson Amazonas, artista de Parintins que produziu a belíssima "Aranha" da União da Ilha, o único carro destruído da escola. Quem sou eu diante da dor dos meus amigos do PortelaWeb e da Guerreiros da Águia ao ver sua escola atingida pelas chamas e envolvida em uma complicada troca de dia de desfile.

Tampouco quero entrar aqui no mérito sobre as decisões em relação ao regulamento da LIESA, que outros já o fizeram aqui neste portal com muita competência. Prefiro neste momento ater-me a defesa do bom senso e espírito critico. Precisamos usar este desastre como lição para algumas coisas que temos desprezado no nosso cotidiano. A primeira delas é a importância da prevenção. Hoje podemos agradecer por vidas terem sido poupadas, boa parte pela já excelente estrutura da Cidade do Samba com portas corta-fogo e saídas de emergência sinalizadas. É necessário lembrar que hoje existem 64 escolas de samba no Rio de Janeiro que não dispõem desse aparato. Uma delas inclusive passou por aflição parecida com um incêndio no sábado. É necessário dotar todas as escolas do Acesso A até o E de estrutura segura e confortável de trabalho. Um direito de todos.

Mesmo depois de desfrutar de tal equipamento, cabe a cada um de nós cuidar do mesmo. Seja cobrando dos dirigentes manutenção necessária para um ambiente de trabalho seguro, seja seguindo normas para tal quando estivermos nesses. Lembro que presenciei muitos fumando em diversos barracões da Cidade do Samba, apesar dos avisos orientando o contrário, especialmente no 4º andar. Outro exemplo ilustrativo do que falo foi minha experiência visitando o galpão do Caprichoso em Parintins. Logo na entrada o aviso: "Capriche na sua segurança, Use seus EPIs". Para entrar nos galpões é necessário usar capacetes ainda que você seja apenas visitante. Faz bastante tempo que não vejo ninguém usando capacete na Cidade do Samba.

O momento é de reflexão e por mais que a situação seja desoladora não podemos menosprezar nosso senso crítico. Cobrar uma investigação a fundo das causas do acidente ajudará na próxima tarefa que é a de construir um futuro mais seguro na produção dos desfiles das escolas de samba. Inclusive com condições dignas para os grupos de Acesso.

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