14.2.14

Isto é fruto do Samba: Nelson Pilão



Agora escrevo como um fã confesso. Desde 2010 quando ainda cobria os desfiles da Intendente Magalhães eu virei fã. Foi ali que vi Nelson Pilão cantando pela primeira vez. O samba era um dos mais belos do acervo do Arame de Ricardo de Albuquerque. Eu já nutria uma empolgação com a escola alimentado pelo primeiro desfile que assisti da mesma. Havia um quê de exotismo naquela apresentação do carnaval 2006.

Em 2006 o Arame fazia uma espécie de releitura da aquarela brasileira. Não era uma reedição, era uma releitura do enredo com o jeitão todo particular do Arame. Pode parecer preciosismo meu, mas o Arame de Ricardo tem sim um jeito especial sim. No ano seguinte o enredo seria o genial tema sobre o arame. Cercar o campo, arrumar panelas, no cultivo de algumas frutas, todos os usos e abusos do arame foram elencados. Foi divertido demais. O abre-alas era uma enorme panela de pressão com um arame juntando a tampa ao corpo e o refrão do samba dizia assim: "Sou arame poderoso, tenho muita utilidade/Sou o fio prateado que embeleza e faz milagre". Um apressado pode já estar com a precipitada conclusão na cabeça de que estou sendo irônico. Eu não estou, falo sério quando digo que o Arame passou a ser um dos pontos altos dos meus carnavais desde então. Talvez se não houvesse a distância entre meu bairro, a Ilha do Governador, e Ricardo de Albuquerque eu tivesse me tornado torcedor da escola.

Em 2010, como eu dizia, o Arame nos brindou com este belo samba de esquenta: "Sonhei que havia um baile me meu jardim/O maestro da orquestra era o jasmim/O cravo esperava como anfitrião/a rosa se acabava em pleno salão..." Quem interpretava era ninguém menos que Nelson Pilão. De voz marcante, forte já naquele esquenta você notava que o cara tinha muito carisma. E carisma é condição essencial para o sucesso de um intérprete de samba-enredo. Os colegas do site Obatuque.com também ficaram impressionados e logo apontaram o intérprete como destaque do desfile do Arame naquele ano. No ano seguinte lá estava Nelson Pilão, dessa vez na Mocidade Unida de Jacarepaguá, atual Cidade de Deus. O samba agradabilíssimo que falava da favela e seus personagens tinha uma mensagem de cunho social interessante e mais uma vez Pilão dando conta do recado. No ano anterior o Arame não conseguiu lograr um bom desempenho no Grupo E, mesmo tendo Pilão conduzido um belo samba afro. Já em 2011 a Mocidade Unida disputou o título e consequentemente a única vaga de acesso do Grupo D para o Grupo C. Foi minha despedida da Intendente Magalhães. Já com o projeto de pesquisa de doutorado mais consistente tentaria a seleção outra vez objetivando pesquisar as escolas de samba de Manaus.

Nesse meio tempo, meu pai, assistiu ao vídeo da performance de Pilão ainda do ano de 2010 pelo Arame de Ricardo. Ficou maluco! Como compositor ele queria Pilão como intérprete do seu samba concorrente na União da Ilha. Gostei da ideia e partimos atrás de um contato com Nelson Pilão, nome que descobri apenas pela ficha técnica passada pela AESCRJ à imprensa. Chegou o concurso e nada. Não encontramos o Pilão.

Desembarquei em Manaus e acompanhando os preparativos para o carnaval 2012 a voz familiar me fez saltar da cadeira enquanto ouvia o CD das escolas de samba da cidade. Era ele! Nelson Pilão era o intérprete da Unidos do Alvorada para o carnaval 2012. Um bonito samba para o enredo em homenagem ao levantador de toadas do Caprichoso, David Assayag. Quem diria que procurávamos pelo Nelson Pilão no Rio de Janeiro e ele estava em Manaus. Pois em 2012 mais uma vez tive o privilégio de acompanhar sua performance ao vivo. E em 2013 acompanharia outra vez agora com Pilão compondo um trio de tenores na A Grande Família e como segundo intérprete na Sem Compromisso. E seguiram várias e gratas oportunidades de ouvir Nelson Pilão cantando. O cara é simplesmente o rei das disputas de samba em Manaus. Em todas as quadra que fui lá estava Nelson Pilão. E não era defendendo um samba só não, eram 2, 3 até 4 sambas numa noite. Sempre afinado e de fácil comunicação com o público. Ele levanta a galera.

Vez por outra esbarrei com o Pilão nas quadras  e o cumprimentei mas tendo aquela vontade de conversar com ele. Algumas vezes me faltou equipamento, outras coragem mesmo. Lembro ainda da primeira vez que abordei o Pilão em um ensaio técnico no sambódromo de Manaus. Ele ensaiaria naquela noite pela Unidos do Alvorada. Eu apenas acompanhava os ensaios. Afogado na minha timidez me apresentei, falei que era do Rio e da admiração pelo trabalho dele no Arame. Ele agradeceu, foi bem simpático, mas não queria incomodá-lo mais. Imagina só, uma cara lá do Rio de Janeiro que se diz seu fã... Eu tão fã não quis incomodar mesmo ele sempre sendo simpático.

Eis que nesta entrevista aqui publicada finalmente pude entrevistar o Nelson Pilão. Como bom fã eu poderia e queria ter esticado a conversa por longas horas, mas também não queria atrapalhar o ensaio da Kamélia, sua escola atual. E foi bacana demais conhecer um pouco mais da trajetória deste talento. O cara que se tornou em tão pouco tempo um dos mais conhecidos sambistas de Manaus. Reconhecido por onde passa por seu grito de guerra "Isto é fruto de Manaus!" Nelson Pilão eu fico cada dia mais teu fã.

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